sexta-feira, 25 de setembro de 2015

ALGOZES DA VIDA DO MUNDO


Quando o sol veio como fogueira
e secou plantações e florestas,
trazendo a morte e a fome,
não era a fúria de Deus, 
era o dedo sujo dos homens,
que não sabem senão destruir.

Quando agrestes e matas arderam
em labaredas tão giganterscas,
não era a maldade do Demo,
mas de homens piores que ele,
que adoram queimadas e mortes,
cultuam somente o lucro,
num deleite tão bestial.

Quando vendavais imensos zumbiram,
tombaram o que havia em seu curso,
trouxeram tempestades dantescas,
imergindo, soterrando  e matando 
crianças, idosos e bichos,
foi tudo fruto do estupro
de humanos à natureza.

Dizei-me, Deus, respondei
que inferno puniria a contento 
pecadores tão sujos e infames,
pessoas tão más e tão sórdidas?
Se, Deus, sois justo, falai
por que os deixastes nascer
pra desgraça tão grande do mundo?  









segunda-feira, 14 de setembro de 2015

O ANTI-HERÓI III

Não sou bom-moço nem sou parnasiano,
Não sou de rezas, rituais e cerimônias,
Não  canto hinos nem exalto flâmulas, bandeiras.
Fico distante de senhores, poderosos e Excelências,
Mais longe ainda de homenagens, rapapés e de discursos.
Digo palavras de corar os puritanos, 
Louvo o pecado como os monges louvam os anjos.
Não danço a música dos modos comportados.
Recito uns versos embebidos na luxúria,
Digo meu não quando todos dizem sim,
Solto impropérios quando querem louvações.
Em nada creio onde impera uma fé cega,
Jogo ironias onde querem comoção.
Minha'alma é livre, planando em minhas asas,
Nada me prende senão a moça que me encanta,
Senão os desejos e emoções que me arrebatam,
Senão os amores que me fazem doce plenamente 
E que me elevam em tão imensurável bem-querer.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

NOITE

Hoje ficarei só,
Sozinho e quieto com meus pensamentos; 
Ficarei aqui com meu silêncio
Ou talvez co'alguma poesia
Que me venha à ideia, insistente,
E me faça poetar qual possuído.

Hoje dormirei só,
Dormirei sozinho co'algum canto
Que me brinque na memória serenada
E me seja o acalanto mais suave,
Ou talvez me venha uma agonia
Que me faça contorcer por noite adentro,
Que me faça doer a imagem dela
Requebrando na memória qual fantasma,
Me trazendo qualquer culpa torturante,
Me fazendo o derradeiro dentre os homens.

Ou quem sabe apenas dormirei, 
Dormirei como criança aconhegada, 
Tão produndo como um ser que não tem vida.

domingo, 24 de maio de 2015

E A POESIA?


Que foi feito enfim da poesia?
Ficou muda n'algum canto a poesia
ou perdida nuns confins a poesia?
Viverá em Lambari a poesia
ou morreu naquela terra  a poesia?


Ficou queda e se perdeu num labririnto,
sem que encontre um caminho de saída?
Ficou presa sob um manto de concreto,
confinada num passado já distante?


Está nos olhos alumbrados de morena?
Há morena ainda de olhos alumbrados?
Não há mais na madrugada a poesia?
Foi perdida em baticuns desritmados?
Fez-se morto silêncio a poesia?


Ou resiste nos olhares que se trocam
nas lascivas noitadas de verão?
Inda está nos beijos quentes dos amantes?
Canta alto no corpo das mulheres
que rebolam em meneios sensuais?


E os acordes que se ouviam noite adentro?
E os cantores que cantavam as tristezas?
É um papel todo encardido a poesia?
Ai,   morreu, e eu vi morrer a poesia?
Ai, o tempo com seu vento furioso
Soterrou no inexistente a poesia?

quarta-feira, 6 de maio de 2015

quinta-feira, 23 de abril de 2015

SOB A CHUVA

O que faço de mim mesmo,
se fui seu como seus lábios,
s'inda tenho nas narinas
seus aromas de enlevar?

O que faço desta vida?
Fico imóvel sob a chuva?
Rezo à chuva que me leve
Pr'um lugar que ninguém viu?

Tive ganas de apertá-la
e pedir que não se fosse,
mas calei o meu suplício:
Ah(!), quem dera um temporal...

O que faço da existência,
se os momentos que vivemos
são lembranças que perfuram
minha carne devagar?

O que faço dos meus passos, 
se fiz planos de concreto,
fiz projetos de utopia:
como fico sem você?

terça-feira, 21 de abril de 2015

TORTURANTE LABIRINTO

Quero gritar,
Mas não há grito que me traduza a agonia tamanha.
Quero me contorcer,
Mas não há gesto à altura da dor que me martiriza. 
Quero deitar-me no chão da escuridão e permanecer imóvel até que  a morte me venha [serena,
Mas ainda assim não conseguirei expressar a lassidão imensa do espírito meu.
Quero chorar de nunca mais secar as lágrimas,
Mas não há pranto que expresse a tristeza profunda 
Dos meus olhos de uma desolação mais sem fim.
Sequer posso - quem dera - fugir de mim mesmo.
Meu Deus, mas que torturante labirinto sou eu!

sábado, 7 de fevereiro de 2015

LAMENTO DA NOITE

Lamenta, noite, vai, lamenta
Nos acordes de viola que pranteiam,
No voz triste da cantora emocionada
E no pio plangente da ave errante
E noturna.

Lamenta, noite, vai, lamenta intensamente
Como o meu coração, que mais parece
Violino chorando em noite de garoa,
Que dói, quieto, opresso, imóvel, indefeso,
No silêncio, noite, no silêncio mortal das solidões.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

AMOR, VOLÚPIA

Deixa eu te abraçar avidamente,
Como se fosses
Frágil menina.
Deixa eu te morder os lábios quentes
Num'ânsia quase
De um'agonia.
Deixa-me beijar então teu ventre
Qual venerasse
A pele fina.
Usa-me, que eu quero ser brinquedo
Dos teus regalos
E teus caprichos.
Quero te desfrutar inteiramente,
Qual foras néctar,
Licor ou vinho.
Vou no gozo chegar à Via-Láctea
E te encontrar
N'alguma estrela,
Num asteroide
Ou paraíso.

domingo, 4 de janeiro de 2015

POEMA BANDIDO III

É o momento de louvar os festejos dissolutos,
os malandros com seus dados viciados,
as mulheres seminuas dos bordéis.

Fazer verso aos bebuns que não têm rumo,
às lascivas dos duzentos namorados
se exibindo e se ofretando nas esquinas.

Fazer canto ao Carnaval e  excessos da folia
com as bundas mais diversas e suadas
rebolando, reluzentes, nos salões.

Ode aos peitos, vulvas, coxas, ancas que se mostram, 
Num sentir arrebatado, fascinado, enlouquecido,
Entre gestos obscenos, rebolados imorais.

Ah, falar pornografias e mandar o mundo às favas!
Adentrar as cerimônias desvestido de camisa
E cantar bonitos sambas, abafando os oradores.

Mas jamais trajar um terno e se vestir de hipocrisia,
Nunca, Deus(!), deixar valer a hipocria!

ENTRE A CRUZ E A ESPADA

       
Se entre a cruz e a espada te ajoelhas,
Reza no fervor de um mártir que agoniza,
Reza como fora Cristo e tenta achar uma esperança.
Pede em tua prece dias bem diversos dos presentes.
Clama pela fuga e pela ausência dos demônios inclementes.
Desfia cem rosários, mil rosários se preciso.
Vai, suplica por um tempo de verdade e de justiça,
De igualdade e de bondade, de harmonia e retidão.